Câmara Municipal de Corumbá foi tomada nesta semana por professores da rede municipal em protesto contra o projeto de lei encaminhado pelo prefeito Gabriel Alves de Oliveira, que altera de forma drástica as regras para contratação temporária de docentes.
Atualmente, os professores podem permanecer até 4 anos consecutivos contratados pelo município e, após um afastamento de 6 meses, podem retornar ao quadro temporário. A proposta do prefeito reduz esse período máximo para 2 anos e amplia a “quarentena” para 2 anos, inviabilizando a continuidade de grande parte dos profissionais que já atuam no cotidiano da educação municipal.
Unanimidade contra o projeto
O recado da Câmara foi claro: o projeto, em sua forma atual, é impossível de passar. Nem mesmo os aliados mais próximos do prefeito conseguiram defender a proposta, revelando o tamanho do desgaste político.
O líder de governo, vereador Hesley Santana, professor de carreira, declarou apoio irrestrito aos manifestantes, algo que escancarou a fragilidade da base governista diante da pressão da categoria.
Façanha expõe isolamento do prefeito
Entre os discursos, a fala mais emblemática foi a de Roberto Façanha. Cotado nos bastidores para ser líder de governo antes da escolha de Hesley, Façanha tem relação estreita com o atual secretário de Relações Institucionais, Marcos Martins, amigo de longa data.
A proximidade se consolidou em 2025, quando Façanha concedeu a Marcos a Medalha Antônio Maria Coelho, maior honraria da Câmara Municipal. Justamente por essa ligação, era esperado que Façanha blindasse o governo em momentos de crise. Mas aconteceu o oposto:
- Ele revelou que um grupo de vereadores já havia procurado o prefeito pedindo flexibilidade no projeto, sem qualquer retorno.
- Recomendou aos professores que buscassem o próprio Gabriel, pois a Câmara não havia participado da formulação da proposta.
Resultado: a fala expôs que nem os mais próximos do secretário de Relações Institucionais foram ouvidos. O Executivo se isolou até dos aliados naturais.
Chicão Vianna rompe o silêncio
Outro momento de impacto foi protagonizado por Chicão Vianna, amigo pessoal do prefeito e um dos principais articuladores de sua eleição em 2024. Da tribuna, antecipou seu voto:
“Não havendo diálogo, nessas condições, eu voto com vocês.”
A declaração foi recebida como um rompimento simbólico: se até Chicão, homem de confiança de Gabriel, declara apoio público aos professores, é porque a condução política do prefeito se tornou insustentável.
Camila, a “Prefeita de Fato”
Nos bastidores, o desgaste volta-se para a secretária de Planejamento, Camila Carvalho, apelidada de “Prefeita de Corumbá” pela influência que exerce sobre o gabinete. Turismóloga de formação, Camila já foi autora de medidas que:
- cortaram verbas de motoristas e monitores da Educação;
- tretiraram o direito de voto de contratados temporários em eleições para diretores escolares.
A bronca não é exclusiva da Educação: servidores de todas as áreas acusam a secretaria de tentar, sistematicamente, reduzir direitos. Hoje, Camila coleciona inimigos e é apontada como o epicentro do caos político que envolve o prefeito.
Constrangimento coletivo
O resultado da falta de articulação foi um constrangimento público: vereadores governistas se viram obrigados a rejeitar um projeto do próprio prefeito; os professores ganharam apoio unânime no plenário; e até a Secretaria de Educação foi lembrada como aliada da categoria, isolando ainda mais a Secretaria de Planejamento.
O que deveria ser apenas uma pauta administrativa se transformou em uma crise política de grandes proporções.
Risco político para 2028
A comparação feita nos corredores é inevitável: Camila começa a lembrar a trajetória de uma ex-secretária de Saúde que, no passado, levou um prefeito a perder totalmente o apoio dos servidores municipais. Mas, desta vez, a influência de Camila não se limita a uma pasta — ela atinge toda a Prefeitura.
Com apenas nove meses de mandato, Gabriel já viu a “leveza das urnas” se perder em meio a crises sucessivas. Se não retomar o controle político e administrativo, o risco é claro: chegar a 2028 enfraquecido, marcado pelo rótulo de um prefeito mal assessorado e sem base social.
Conclusão
O protesto dos professores não foi apenas contra um projeto. Foi contra um estilo de gestão. A Câmara rejeitou, os vereadores se constrangeram, os servidores se revoltaram, e a “Prefeita de Fato” saiu novamente como símbolo do desgaste de Gabriel.
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