Aplausos ao lucro fácil, misoginia e retrocessos ambientais expõem as contradições do país.
Aplausos ao lucro fácil, misoginia e retrocessos ambientais expõem as contradições do país.
Nos últimos dias, uma sucessão de acontecimentos expõe o quanto os valores estão distorcidos no Brasil. O aplauso a práticas que exploram o desespero alheio, o enfraquecimento de regulações ambientais e os ataques à ministra Marina Silva são sintomas de uma sociedade que privilegia o lucro imediato e o poder sobre a ética, a inclusão e o futuro.
A sessão da CPI das Bets se transformou em um palco de exaltação à influenciadora digital Virginia Fonseca, investigada por promover sites de apostas que lucram às custas do desespero de famílias brasileiras. Em vez de ser confrontada sobre sua responsabilidade, Virginia foi tratada como celebridade. Parlamentares disputaram selfies, esquecendo que a influenciadora monetiza um sistema que gera endividamento e destrói vidas. O recado é claro: no Brasil, é mais importante ser popular do que questionar o impacto social das suas ações.
O Projeto de Lei 2159/2021, conhecido como “PL da Devastação”, representa um retrocesso sem precedentes. Disfarçado de destrava do desenvolvimento econômico, o PL flexibiliza o licenciamento ambiental e promove um modelo de exploração predatória. Ao retirar a necessidade de estudos técnicos para muitas atividades, o projeto abre portas para desastres ambientais. Estados e municípios, com estruturas tão heterogêneas, são os novos responsáveis por definir regras, o que pode desencadear uma competição para oferecer o menor rigor em nome de atração de investimentos.
É uma escolha que valoriza o lucro imediato, mas ignora os custos de longo prazo. O Brasil, país que será anfitrião da próxima COP e tem uma das maiores biodiversidades do mundo, está abandonando a liderança climática para se tornar um exemplo do que não fazer.
A ministra Marina Silva, um ícone da luta ambiental e da política com propósito, foi brutalmente atacada durante uma sessão no Senado. Convidada para debater, Marina enfrentou interrupções constantes, foi desrespeitada verbalmente e teve seu microfone cortado. Os ataques eram mais do que discordância política; eram expressões de misoginia e uma tentativa de silenciar uma mulher que carrega a história de uma vida dedicada à defesa do meio ambiente.
A vida e a natureza, quando mortas, têm sido mais celebradas do que a força secular de uma mulher que defende o futuro vivo para todos, não apenas para alguns. Marina Silva tem apresentado resultados exemplares de controle à devastação ambiental, que há anos não eram vistos neste país. Como uma árvore amazônica, ela permanece firme e forte, mostrando aos seus sucessores e alunos como devemos nos portar diante dos imensos absurdos que encontraremos nesta trajetória de luta.
Viva Marina Silva! Saudamos sua força ancestral brasileira. Obrigada por ser exemplo. Que ela inspire cada um de nós e que saibamos escolher, com sabedoria, os nossos representantes.
O Brasil vive um paradoxo. Por um lado, somos um país rico em recursos, potencial e diversidade. Por outro, escolhemos, repetidamente, a destruição como caminho. Aplaudimos quem enriquece explorando vulnerabilidades e atacamos quem defende valores coletivos. Vivemos a inversão de valores que tanto se comenta, mas poucos percebem que ela não é abstrata; é concreta, cotidiana e visível nesses episódios.
A CPI das Bets, o PL da Devastação e os ataques a Marina Silva não são eventos isolados. Eles são sintomas de um modelo de sociedade em que o indivíduo vale mais do que o coletivo e onde o lucro está acima da ética. Precisamos mudar essa narrativa.
Marina Silva simboliza o Brasil que pode ser: um país que valoriza a sustentabilidade, a justiça social e o respeito às diferenças. A questão que fica é: queremos continuar aplaudindo quem lucra com a destruição ou estamos prontos para apoiar aqueles que lutam por um futuro melhor?
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29/05/2025
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